Após citar suspeita de ‘mentiras’, Renan ameaça pedir prisão de Wajngarten na CPI

Ex-secretário de Comunicação da Presidência disse em entrevista à ‘Veja’ que ‘incompetência’ do Ministério da Saúde atrasou compra de vacinas, mas suavizou o discurso na CPI. Relator vai pedir os áudios à revista.

Wajngarten nega declaração publicada em revista e diz desconhecer orientações contrárias à compra de vacina

O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), disse nesta quarta-feira (12) que a comissão pode pedir a prisão do ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten caso se confirme que ele tenha mentido.

Wajngarten foi convocado para explicar declaração que, segundo a revista “Veja”, ele deu em entrevista no fim de abril. De acordo com a “Veja”, Wajngarten afirmou que a “incompetência” da equipe do Ministério da Saúde atrasou a compra de vacinas contra a Covid-19.

O ex-chefe da Secom também disse, em entrevista, que o presidente Jair Bolsonaro não poderia ser responsabilizado, pois recebeu informações erradas no processo de aquisição de vacinas.

Nesta quarta-feira, porém, o ex-secretário disse que quando falou em incompetência, se referia à “burocarcia” e à “morosidade da administração pública”. Ele ainda fez elogios ao ex-ministro Eduardo Pazuello, a quem chamou de “corajoso”. Pazuello era o ministro quando o governo fechou as primeiras contratações de vacinas.

Renan pediu ao presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), que requisite o áudio da entrevista dada à “Veja” para checar o que foi dito por Wajngarten.

“Se ele não mentiu, a revista ‘Veja’ vai ter que pedir desculpas a ele. Se ele mentiu, terá desprestigiado e mentido ao Congresso Nacional, o que é um péssimo exemplo. Eu queria dizer que vou cobrar a revista ‘Veja’. Se ele não mentiu, que ela se retrate a ele. E, se ele mentiu à revista Veja e a esta comissão, eu vou requerer a Vossa Excelência na forma da legislação processual a prisão do depoente”, disse o relator da CPI. 

Este é o quinto dia de depoimentos da comissão parlamentar de inquérito, que apura ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia de Covid e eventual desvio de verbas federais enviadas a estados e municípios.

Na condição de testemunha, o depoente se compromete a dizer a verdade, sob o risco de incorrer no crime de falso testemunho.

Antes da ameaça de prisão, Renan já havia dito que Wajngarten “exagerou na mentira” no depoimento. Desta vez, o senador se referia às informações que o ex-secretário deu sobre sobre uma campanha publicitária do governo sobre a pandemia.

“Não minta, eu vou citar um fato que vossa excelência exagerou na mentira, hoje aqui no depoimento. Vossa senhoria citou uma fala da campanha com Otávio Mesquita como modelo de esclarecimento, mas mentiu para CPI, disse Renan.

‘O senhor mentiu para a CPI’, diz Renan a Wajngarten sobre declarações a revista

“Não cabe ao relator ou a qualquer membro dessa CPI ameaçar o depoente de prisão. Com todo respeito, senhor presidente, Vossa Excelência deveria saber que prisão só pode acontecer em flagrante, nem poderia posteriormente pedir a prisão dele em razão de eventual contradição. Não cabe, senador Renan. A prisão no caso de depoimento fraudulento é no momento do depoimento, isso é abuso de autoridade”, disse.

Senadores também demonstraram contrariedade com as declarações de Wajngarten de que não tinha conhecimento sobre um “assessoramento paralelo” no Palácio do Planalto para definir as diretrizes do governo sobre a pandemia.

Em depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta contou sobre a existência desse grupo e disse que chegou a participar de reunião em que foi discutida uma mudança na bula da cloroquina, de modo a passar a prever a indicação do remédio para o tratamento da Covid-19.

Questionado, Wajngarten disse que nunca participou e que não confirma a existência de um gabinete paralelo. “Desconheço qualquer coisa nesse sentido”, afirmou.

Renan Calheiros disse que o depoimento estava se encaminhando para um terreno “muito ruim”. “Vossa senhoria é a prova da existência dessa consultoria”, afirmou o relator.

“Vossa Excelência é a primeira pessoa que incrimina o presidente da República, porque iniciou uma negociação em nome do Ministério da Saúde como Secretário de Comunicação e se dizendo em nome do presidente É a prova da existência disso”, acrescentou.

À CPI, Wajngarten admitiu que entrou em contato com a Pfizer após saber que a farmacêutica havia enviado uma carta oferecendo vacinas e ficado dois meses sem resposta. Segundo ele, foram três reuniões e o objetivo era acelerar a chegada do imunizante ao país.

“Nunca procurei a Pfizer, nunca pedi a reunião, eu nunca nada. Sempre me comportei de forma reativa para acelerar a chegada da melhor vacina naquele momento”, afirmou.

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